Alexandre Quintanilha sobre "Melhoramento e potenciação humanas"

Alexandre Quintanilha sobre "Melhoramento e potenciação humanas"

No dia derradeiro da IV Semana de Astronomia Luciano Pereira da Silva, do Agrupamento de Escolas Coura e Minho, co-organizada pela Biblioteca Escolar e o Departamento de Matemática e Ciências Experimentais (disciplina de Físico-Química), esteve na EB2,3/S de Caminha o Professor Doutor Alexandre Quintanilha, emérito catedrático e investigador da Universidade do Porto, com conhecidas ligações ao concelho de Caminha, onde possui residência secundária.

O tema da conferência do físico e biólogo português foi "Melhoramento e potenciação humanas", uma temática interdisciplinar que tem merecido nos últimos anos a sua atenção académica. O auditório era composto por jovens estudantes do Curso de Ciências e Tecnologia do Ensino Secundário (do 10º ao 12º anos) que ouviram o palestrante começar por fazer uma breve resenha histórica do estado do planeta e da espécie humana, com particular incidência nos anos de expansão 1945-1980, período em que o tempo médio de vida duplicou, tal como a população, triplicando a produção de alimentos e o consumo de água. Contudo, como prosseguiu, a partir dos anos 80 esta "visão otimista ficou turva", com a estagnação da produção de alimentos, o reaparecimento de velhas doenças (tuberculose) e a emergência de novas (HIV), o aumento da temperatura do planeta e, sobretudo, o incremento das desigualdades entre pessoas e entre países pobres e ricos. De acordo com Alexandre Quintanilha, esta última dicotomia é útil para identificar os grandes problemas da atualidade: nas nações ricas, o envelhecimento, o isolamento, a vida em stress e alimentos a mais; em contraste, nas nações pobres, as doeças infecciosas, o acesso à educação e à saúde, a diferença entre géneros e a falta de alimentos.

Em seguida, o palestrante definiu  "melhoramento humano" (ter acesso a uma casa, a aquecimento, a uma escola que funciona, etc), frisando que foram conquistas dos últimos cinco séculos, muitas delas obtidas contra a resistência das autoridades instituídas. Distinguindo "terapia" de "melhoramento", apontou para os desafios do futuro, nomeadamente no campo da engenharia genética e das nanociências, que nos levam a desafiar constantemente a natureza, apesar do debate ético que esses avanços geram e das vozes contrárias que levantam (mas, como lembrou, "tudo o que a medicina faz é contra a natureza!").

No final da conferência, aberto o debate, Alexandre Quintanilha teve ainda oportunidade de responder a algumas questões dos alunos, como foi o caso de uma referente aos organismos geneticamente modificados para potenciar a produção de cereais, defendendo o cientista que se trata de uma questão essencialmente política e económica em que ambas as partes do debate em curso "mentem": as multinacionais produtoras de OGM argumentam com a necessidade de aumentar a produção de alimentos quando o problema é a sua má distribuição; os opositores dos transgénicos, por sua vez, agitam os perigos de se mexer com o DNA, esquecendo que a "essência do ser vivo não é o DNA!". No final, Alexandre Quintanilha deixou uma máxima aos jovens estudantes presentes: "não tenham demasiadas certezas mas sim muitas dúvidas!".